quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quem faz e quem deixa de fazer.

Hoje Lua me disse que era eu quem fazia o chá.

Então, vamos lá. Pega a leiteirinha (que não tem chaleira aqui em casa), escolha sua caneca favorita, um sabor adistringente alí na prateileira e me dá uns 5 minutinhos.

Em fogo baixo, falamos de preconceito.

Começo com esse tema em especial por ser uma vítima dele com certa freqüência (com trema, sim, obrigada). Não só pela maneira que meus genes resolveram se expressar, mas pelas escolhas que fiz.

“Como assim, Lu?”

Bom...Começando que sou mulher (mas se eu fosse homem, eu teria que seguir uns tantos padrões de comportamento também). Depois de não ser beleza-padrão, pensamento-padrão, personalidade-padrão, jeito-padrão, amigos-padrão e ter sofrido “bullyng corretivo” (e se você me vier com aquela história de “bullyng fortalece caráter”, te convido pra tomar outro chá comigo, logo, logo!)...

Resolvi que ia parar de comer carne. Não muito mais tarde, eu vi (empiricamente, juro) que beber e fumar não eram a minha e, conseqüentemente, as drogas foram no mesmo caminho. Então, descobri que pegação de balada é um troço meio eca e prefiro dançar do que me esfregar no primeiro bonitinho que me dá bola, daí sexo deixou de ser uma prática constante também. E já que eu andava com essas crises existenciais que a vida nos presenteia, me dedico (ora mais, ora menos) à meditação.

(E aí, caiu o queixo?)

Confesso: um dos meus maiores desafios é fazer com que entendam que eu não sou chata, ou santa, ou triste, ou me privo de qualquer maneira. Todo mundo acha que eu não saio, não me divirto, ou não sei me portar com gente bêbada. Ou ainda (e essa é minha favorita), me veem como mártir de uma causa de pureza e desapego dos prazeres carnais.

Senhoras e senhores, isso é preconceito. Tudo bem que ninguém me bate com lâmpada fluorescênte na Augusta, ou me atropelam e saem impunes, mediante leve pagamento... Tô numa posição privilegiada, eu sei.

Mas...

As melhores pessoas que conheço, em algum momento, já torceram o nariz e me olham incrédulas pelas escolhas que fiz. Simplesmente não souberam lidar com a situação, quando “podiam”me chamar pra fazer alguma coisa, aonde “poderiam” me levar pra sair...

Mesmo elas têm preconceito de algum jeito, em algum lugar. Isso inclui eu, você e todo mundo.

Saimos do pedestal então, queridxs preconceituosxs?

Então, vamos entender algumas coisas: Antes de apontar na cara de qualquer pessoa e dizer “você é um xxxxxx” ou “que atitude mais yyyyyyyy”, faça uma auto-avaliação. Qual foi a última vez que você fez um check-up e pegou alguns vícios pra analisar? Qual foi a última vez que você julgou alguém pelas escolhas que essa pessoa fez? Não to dizendo pra você, de repente, querer ser legal com todo mundo. Nem to dizendo que não existe atitude errada ou condenável (até porque não somos donas da verdade, apenas da leiteira que tá levantando fervura, certo?). MUITO MENOS digo que eu mesma não tenha preconceito com algumas coisinhas por aí. Mas nós deveriamos primeiro tentar mudar nossas atitudes antes de querer mudá-las no mundo.

Você não é melhor do que ninguém. Então abrace essa humildade e veja o mundo por outras lentes, fora as suas.

Vai mais uma xícara?

PS: Especial pra você que perguntou “o que ela faço da vida”, ou “como ela posso ser feliz” sem comer carne, beber, fumar, drogar ou fazer muito sexo..

Bem, eu te pergunto: Sua felicidade depende mesmo dessas 5 coisas? Sendo três delas modos de alterar sua consciência e uma baseada em violência (estou falando de comer carne, gente!!)? Eu consigo ser feliz, rir, dançar, viajar, abrir a mente e aproveitar muitos momentos de muitas maneiras diferentes, independente de que(m) eu consuma. Então não se preocupe comigo. Se preocupe com você. Você é realmente feliz?

(fim da alfinetada.)

2 comentários:

  1. Eu acho que o melhor de tudo é poder ser uma pessoa diferente a cada dia. E você pode.
    Isso é flexibilidade moral.
    Uma semana vegetariano, outra semana numa churrascaria. Modernidade líquida. Mas eu te amo mesmo assim Lu.

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