segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Ganso
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Quem quer manter a ordem?
O fato: estudantes da (FFLCH) USP impedem detenção de alunos que portavam maconha. O que a midia me disse foi basicamente isso. O que um amigo, envolvido no rolê disse é que, depois de enquadrar, hoje a tarde, uma galera no morrinho (jardim que fica entre a Faculdade de História e Geografia e a Faculdade de Ciências Sociais, cercado de estacionamentos, onde a galera se reúne pra estudar, dormir, tomar cerveja, fazer churrasco e, desde sempre, fumar maconha), os policiais voltaram pela noite e deram enquadro nos alunos que estavam, de fato, fumando maconha. Primeira reação: impedir que os alunos fossem levados pra DP. Ok. Professores se reuniram, conversaram, tiraram os alunos de lá. A PM resolveu levar os caras mesmo assim. Não se esqueça que eles estavam só fazendo o trabalho deles. A gente concorda com esse trabalho? NÃO. Isso faz algum sentido? NÃO. Isso torna a briga dos alunos legítima? Hmmm... NÃO. O segundo passo foi fazer um cordão de isolamento, pros carinhas não serem presos. Justo. O terceiro passo foi depredar a viatura e partir pra cima dos PMs. Certo que coisas aconteceram entre o cordão e a depredação. Certo que os policiais se exaltaram. Certo que os alunos agiram por um absurdo sentimento de grupo (todos fazem, e a culpa não é de ninguém, Geisy Arruda feelings). Mas, como eu disse no começo, está acontecendo agora e eu estou em casa (pelega).
Partindo dessas (poucas e incompletas) informações, vem a parte complicada. A sociedade está dividida entre o bem o mal, nós pensamos no bem e no mal e bem... Dessa vez todo mundo é mocinho, todo mundo é bandido. Primeira coisa: maconha é ilegal. Todo mundo fuma. Todo mundo sabe onde comprar. De vagabundo a artista, de aluno a pós-doutorado. Tá todo mundo nesse rolê. Não é segredo pra ninguém. Mas continua sendo ilegal. Vale a pena armar essa briga pela USP? Vale tudo isso? Não acho. Ou abre a discussão, ou fica na boa e burla as regras pra não se quebrar. Até o momento em que os alunos foram presos, acho que a sociedade civil (e nesse caso estudantil) estava com a razão. É droga, é ilegal, mas sendo consumidas pelos cidadãos de bem, a elite intelectual do Brasil. Não são """"vândalos"""" e podia rolar um deixa disso.
E isso nos leva à outra questão: PM pra que? De fato faz sentido reprimir fumadores pacíficos de maconha quando tem tanta coisa bad acontecendo por aí? De novo, a discussão dentro da USP faz sentido? Até aí, estávamos cheios de precedentes para argumentar. E aí aconteceu o que fodeu o rolê inteiro: depredaram um carro da polícia. No calor do momento, isso é sensato. Isso é o único caminho. Pensando um pouco depois, isso dificulta toda a possibilidade da população se engajar. Lembre-se que nós, estudantes de humanas da USP não passamos de playboys maconheiros e mamãe-quero-ser-rebelde pros olhos de grande parte da população (e eu nem me atrevo a condenar quem pensa assim: o que a midia diz sobre a gente? Como o movimento estudantil tenta estrapolar os muros da universidade sem ser pela voz dos partidos?). Mais um pra engrossar o caldo da moral e dos bons costumes (aliás, eu tô coçando pra saber o que a Veja vai dizer...).
O que só nos remete ao fato realmente maior. Existe um motivo pra isso, que entre tantos maconheiros nessa linda cidade de SP esses três são detidos. Os cursos de humanas estão cada vez mais sucateados pelos reitores rabo preso com o PSDB (pra quem não sabe, é o Ilmo. Sr. Governador que escolhe o nosso reitor. Não, não são os professores, alunos e funcionários que VIVEM a cidade universitária que escolhe quem governa. É mais em cima. Isso faz a democracia enrubescer de excitação). Para que deixar o pensamento (livre??????) ser cultivado na Universidade (pra quem não conhece o nosso lindo tripé da universidade, temos o ensino, a pesquisa e extensão nos apoiando, ou seja, aprender, ensinar, produzir, criam. AHAM, CLÁUDIA), se podemos produzir técnicos em tudo? Essa é uma longa discussão, mas não dá pra ignorar esse fato como contribuinte para as ações do poder público sobre a nossa faculdade.
Cheio de questões sem resposta. Cheia de dúvidas, eu me pergunto se esse tipo de movimentação é de fato válida. Fiquei na dúvida sobre ir pra lá ou ficar. Dá pra perceber que eu fiquei, enquanto os três caras foram de fato detidos, enquanto a administração da FFLCH está prestes a ser ocupada.
update: a Veja já se pronunciou. sua linda. Vale ler também os comentários pertinentes do Lorenzo:
Informações dadas como verdadeiras, pero que não são:
1) Eu estava lá e, de acordo com todas as informações que correram, dois, não três, estudantes foram abordados pela PM, no estacionamento do prédio Dr. Eurípedes Simões de Paula;
2) Diz a Lei que o uso de drogas ilícitas não pode ser punida com prisão. Logo, se os policiais iam prender os estudantes, não estavam agindo de acordo com a Lei. Se foi encontrada quantidade suficiente para configurar tráfico, isto a justiça avaliará - e até o momento não aparenta ser isso o ocorrido.
3) As bombas foram atiradas sobre a multidão, que não era "exaltada" (seja lá o que for isso). Ou seja: atirou-se bombas numa manifestação. Não venha chamar isto de democracia, pois uma democracia permite que os cidadãos se manifestem de forma livre, desde que não infrinjam direito algum. A PM, ao sentir-se incapaz de resolver a situação por si, resolveu dissipar os manifestantes atirando sordidamente bombas contra civis desarmados que, no máximo, gritavam palavras de ordem.
Quanto à análise, apesar de valer-se do pressuposto de aguardar maiores informações, mostra a má vontade de sempre no que se refere aos estudantes da Faculdade de Filosofia da USP. Isto é direito do autor, devendo o leitor apenas ter cuidado com o tom de imparcialidade que carrega o discurso.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Quem faz e quem deixa de fazer.
Hoje Lua me disse que era eu quem fazia o chá.
Então, vamos lá. Pega a leiteirinha (que não tem chaleira aqui em casa), escolha sua caneca favorita, um sabor adistringente alí na prateileira e me dá uns 5 minutinhos.
Em fogo baixo, falamos de preconceito.
Começo com esse tema em especial por ser uma vítima dele com certa freqüência (com trema, sim, obrigada). Não só pela maneira que meus genes resolveram se expressar, mas pelas escolhas que fiz.
“Como assim, Lu?”
Bom...Começando que sou mulher (mas se eu fosse homem, eu teria que seguir uns tantos padrões de comportamento também). Depois de não ser beleza-padrão, pensamento-padrão, personalidade-padrão, jeito-padrão, amigos-padrão e ter sofrido “bullyng corretivo” (e se você me vier com aquela história de “bullyng fortalece caráter”, te convido pra tomar outro chá comigo, logo, logo!)...
Resolvi que ia parar de comer carne. Não muito mais tarde, eu vi (empiricamente, juro) que beber e fumar não eram a minha e, conseqüentemente, as drogas foram no mesmo caminho. Então, descobri que pegação de balada é um troço meio eca e prefiro dançar do que me esfregar no primeiro bonitinho que me dá bola, daí sexo deixou de ser uma prática constante também. E já que eu andava com essas crises existenciais que a vida nos presenteia, me dedico (ora mais, ora menos) à meditação.
(E aí, caiu o queixo?)
Confesso: um dos meus maiores desafios é fazer com que entendam que eu não sou chata, ou santa, ou triste, ou me privo de qualquer maneira. Todo mundo acha que eu não saio, não me divirto, ou não sei me portar com gente bêbada. Ou ainda (e essa é minha favorita), me veem como mártir de uma causa de pureza e desapego dos prazeres carnais.
Senhoras e senhores, isso é preconceito. Tudo bem que ninguém me bate com lâmpada fluorescênte na Augusta, ou me atropelam e saem impunes, mediante leve pagamento... Tô numa posição privilegiada, eu sei.
Mas...
As melhores pessoas que conheço, em algum momento, já torceram o nariz e me olham incrédulas pelas escolhas que fiz. Simplesmente não souberam lidar com a situação, quando “podiam”me chamar pra fazer alguma coisa, aonde “poderiam” me levar pra sair...
Mesmo elas têm preconceito de algum jeito, em algum lugar. Isso inclui eu, você e todo mundo.
Saimos do pedestal então, queridxs preconceituosxs?
Então, vamos entender algumas coisas: Antes de apontar na cara de qualquer pessoa e dizer “você é um xxxxxx” ou “que atitude mais yyyyyyyy”, faça uma auto-avaliação. Qual foi a última vez que você fez um check-up e pegou alguns vícios pra analisar? Qual foi a última vez que você julgou alguém pelas escolhas que essa pessoa fez? Não to dizendo pra você, de repente, querer ser legal com todo mundo. Nem to dizendo que não existe atitude errada ou condenável (até porque não somos donas da verdade, apenas da leiteira que tá levantando fervura, certo?). MUITO MENOS digo que eu mesma não tenha preconceito com algumas coisinhas por aí. Mas nós deveriamos primeiro tentar mudar nossas atitudes antes de querer mudá-las no mundo.
Você não é melhor do que ninguém. Então abrace essa humildade e veja o mundo por outras lentes, fora as suas.
Vai mais uma xícara?
PS: Especial pra você que perguntou “o que ela faço da vida”, ou “como ela posso ser feliz” sem comer carne, beber, fumar, drogar ou fazer muito sexo..
Bem, eu te pergunto: Sua felicidade depende mesmo dessas 5 coisas? Sendo três delas modos de alterar sua consciência e uma baseada em violência (estou falando de comer carne, gente!!)? Eu consigo ser feliz, rir, dançar, viajar, abrir a mente e aproveitar muitos momentos de muitas maneiras diferentes, independente de que(m) eu consuma. Então não se preocupe comigo. Se preocupe com você. Você é realmente feliz?
(fim da alfinetada.)