segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ganso

Vi isso


E sinceramente?
Apesar do Lula estar com câncer, um bem parecido com o que matou meu pai não faz tanto tempo, fazer esse circo todo é deprimente.
Seguir doença de famoso - seja político, seja ator - é igual novela. Acho que eles podiam passar menos saída de hospital e mais protestos contra o Código Florestal, o "Câncer" da política, problema na educação... Em suma: coisa melhor.
Isso no jornalismo, não querendo falar da emissora.

Ainda.

Atrapalhar a Globo é que nem dar chocolate pra mulher de TPM. Nem sempre é propositado, nem sempre é necessário, nem sempre é o que a guria quer....Mas sempre é digno.
Pode ser minha onda com o "terrorismo poético" (que me fez tirar essa revista aqui, ó:

dos fundos da estante de revistas do Zaffari - rede grande de Super Mercado em Porto Alegre, onde a nata dos moralistas e conservadores faz os "ranchos" mensais - e tapar a frente de todas as Cláudia, Tititi, Atrevida, Men's Health que tinham na estante da frente), mas acho a iniciativa muito válida.
Mostra que a juventude internauta faz mais do que apenas blogar inutilmente (culpada!) e facebookear contra a procrastinação (culpada de novo!), mas se reúne, protesta, questiona e faz o Ganso mais lindo em rede nacional.

Todo meu apoio aos caras, que não só falam mal da rede (pra depois chegar correndo em casa e pegar o fim da novela das 8), mas vão lá e mandam calar a boca. No JN! ♥

Ah...é.... Falando da agressão.

"Agressão Física" nunca é legal, mas empurrão desses eu levo no ônibus todos os dias e nunca quis processar ninguém. Mas levantar a mão contra qualquer global sempre foi pecado. Afinal eles são de porcelana chinesa.
E aí já é coisa que eu prefiro não brincar.


Lua gansando no post alheio
update: Passarinho me contou que andaram causando lá na Abril, aquela linda. E deixaram esse bilhetinho na porta. Valorizo.

É, bebé. Liberdade de imprensa tem mão dupla.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Quem quer manter a ordem?

Por enquanto fresco, ainda não sei o que está acontecendo. Garimpo informações enquanto tento manter a calma, ligar para advogados e tomo uma cerveja. Sem culpa.
O fato: estudantes da (FFLCH) USP impedem detenção de alunos que portavam maconha. O que a midia me disse foi basicamente isso. O que um amigo, envolvido no rolê disse é que, depois de enquadrar, hoje a tarde, uma galera no morrinho (jardim que fica entre a Faculdade de História e Geografia e a Faculdade de Ciências Sociais, cercado de estacionamentos, onde a galera se reúne pra estudar, dormir, tomar cerveja, fazer churrasco e, desde sempre, fumar maconha), os policiais voltaram pela noite e deram enquadro nos alunos que estavam, de fato, fumando maconha. Primeira reação: impedir que os alunos fossem levados pra DP. Ok. Professores se reuniram, conversaram, tiraram os alunos de lá. A PM resolveu levar os caras mesmo assim. Não se esqueça que eles estavam só fazendo o trabalho deles. A gente concorda com esse trabalho? NÃO. Isso faz algum sentido? NÃO. Isso torna a briga dos alunos legítima? Hmmm... NÃO. O segundo passo foi fazer um cordão de isolamento, pros carinhas não serem presos. Justo. O terceiro passo foi depredar a viatura e partir pra cima dos PMs. Certo que coisas aconteceram entre o cordão e a depredação. Certo que os policiais se exaltaram. Certo que os alunos agiram por um absurdo sentimento de grupo (todos fazem, e a culpa não é de ninguém, Geisy Arruda feelings). Mas, como eu disse no começo, está acontecendo agora e eu estou em casa (pelega).
Partindo dessas (poucas e incompletas) informações, vem a parte complicada. A sociedade está dividida entre o bem o mal, nós pensamos no bem e no mal e bem... Dessa vez todo mundo é mocinho, todo mundo é bandido. Primeira coisa: maconha é ilegal. Todo mundo fuma. Todo mundo sabe onde comprar. De vagabundo a artista, de aluno a pós-doutorado. Tá todo mundo nesse rolê. Não é segredo pra ninguém. Mas continua sendo ilegal. Vale a pena armar essa briga pela USP? Vale tudo isso? Não acho. Ou abre a discussão, ou fica na boa e burla as regras pra não se quebrar. Até o momento em que os alunos foram presos, acho que a sociedade civil (e nesse caso estudantil) estava com a razão. É droga, é ilegal, mas sendo consumidas pelos cidadãos de bem, a elite intelectual do Brasil. Não são """"vândalos"""" e podia rolar um deixa disso.
E isso nos leva à outra questão: PM pra que? De fato faz sentido reprimir fumadores pacíficos de maconha quando tem tanta coisa bad acontecendo por aí? De novo, a discussão dentro da USP faz sentido? Até aí, estávamos cheios de precedentes para argumentar. E aí aconteceu o que fodeu o rolê inteiro: depredaram um carro da polícia. No calor do momento, isso é sensato. Isso é o único caminho. Pensando um pouco depois, isso dificulta toda a possibilidade da população se engajar. Lembre-se que nós, estudantes de humanas da USP não passamos de playboys maconheiros e mamãe-quero-ser-rebelde pros olhos de grande parte da população (e eu nem me atrevo a condenar quem pensa assim: o que a midia diz sobre a gente? Como o movimento estudantil tenta estrapolar os muros da universidade sem ser pela voz dos partidos?). Mais um pra engrossar o caldo da moral e dos bons costumes (aliás, eu coçando pra saber o que a Veja vai dizer...).
O que só nos remete ao fato realmente maior. Existe um motivo pra isso, que entre tantos maconheiros nessa linda cidade de SP esses três são detidos. Os cursos de humanas estão cada vez mais sucateados pelos reitores rabo preso com o PSDB (pra quem não sabe, é o Ilmo. Sr. Governador que escolhe o nosso reitor. Não, não são os professores, alunos e funcionários que VIVEM a cidade universitária que escolhe quem governa. É mais em cima. Isso faz a democracia enrubescer de excitação). Para que deixar o pensamento (livre??????) ser cultivado na Universidade (pra quem não conhece o nosso lindo tripé da universidade, temos o ensino, a pesquisa e extensão nos apoiando, ou seja, aprender, ensinar, produzir, criam. AHAM, CLÁUDIA), se podemos produzir técnicos em tudo? Essa é uma longa discussão, mas não dá pra ignorar esse fato como contribuinte para as ações do poder público sobre a nossa faculdade.
Cheio de questões sem resposta. Cheia de dúvidas, eu me pergunto se esse tipo de movimentação é de fato válida. Fiquei na dúvida sobre ir pra lá ou ficar. Dá pra perceber que eu fiquei, enquanto os três caras foram de fato detidos, enquanto a administração da FFLCH está prestes a ser ocupada.



update: a Veja já se pronunciou. sua linda. Vale ler também os comentários pertinentes do Lorenzo:
Informações dadas como verdadeiras, pero que não são:

1) Eu estava lá e, de acordo com todas as informações que correram, dois, não três, estudantes foram abordados pela PM, no estacionamento do prédio Dr. Eurípedes Simões de Paula;

2) Diz a Lei que o uso de drogas ilícitas não pode ser punida com prisão. Logo, se os policiais iam prender os estudantes, não estavam agindo de acordo com a Lei. Se foi encontrada quantidade suficiente para configurar tráfico, isto a justiça avaliará - e até o momento não aparenta ser isso o ocorrido.

3) As bombas foram atiradas sobre a multidão, que não era "exaltada" (seja lá o que for isso). Ou seja: atirou-se bombas numa manifestação. Não venha chamar isto de democracia, pois uma democracia permite que os cidadãos se manifestem de forma livre, desde que não infrinjam direito algum. A PM, ao sentir-se incapaz de resolver a situação por si, resolveu dissipar os manifestantes atirando sordidamente bombas contra civis desarmados que, no máximo, gritavam palavras de ordem.

Quanto à análise, apesar de valer-se do pressuposto de aguardar maiores informações, mostra a má vontade de sempre no que se refere aos estudantes da Faculdade de Filosofia da USP. Isto é direito do autor, devendo o leitor apenas ter cuidado com o tom de imparcialidade que carrega o discurso.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quem faz e quem deixa de fazer.

Hoje Lua me disse que era eu quem fazia o chá.

Então, vamos lá. Pega a leiteirinha (que não tem chaleira aqui em casa), escolha sua caneca favorita, um sabor adistringente alí na prateileira e me dá uns 5 minutinhos.

Em fogo baixo, falamos de preconceito.

Começo com esse tema em especial por ser uma vítima dele com certa freqüência (com trema, sim, obrigada). Não só pela maneira que meus genes resolveram se expressar, mas pelas escolhas que fiz.

“Como assim, Lu?”

Bom...Começando que sou mulher (mas se eu fosse homem, eu teria que seguir uns tantos padrões de comportamento também). Depois de não ser beleza-padrão, pensamento-padrão, personalidade-padrão, jeito-padrão, amigos-padrão e ter sofrido “bullyng corretivo” (e se você me vier com aquela história de “bullyng fortalece caráter”, te convido pra tomar outro chá comigo, logo, logo!)...

Resolvi que ia parar de comer carne. Não muito mais tarde, eu vi (empiricamente, juro) que beber e fumar não eram a minha e, conseqüentemente, as drogas foram no mesmo caminho. Então, descobri que pegação de balada é um troço meio eca e prefiro dançar do que me esfregar no primeiro bonitinho que me dá bola, daí sexo deixou de ser uma prática constante também. E já que eu andava com essas crises existenciais que a vida nos presenteia, me dedico (ora mais, ora menos) à meditação.

(E aí, caiu o queixo?)

Confesso: um dos meus maiores desafios é fazer com que entendam que eu não sou chata, ou santa, ou triste, ou me privo de qualquer maneira. Todo mundo acha que eu não saio, não me divirto, ou não sei me portar com gente bêbada. Ou ainda (e essa é minha favorita), me veem como mártir de uma causa de pureza e desapego dos prazeres carnais.

Senhoras e senhores, isso é preconceito. Tudo bem que ninguém me bate com lâmpada fluorescênte na Augusta, ou me atropelam e saem impunes, mediante leve pagamento... Tô numa posição privilegiada, eu sei.

Mas...

As melhores pessoas que conheço, em algum momento, já torceram o nariz e me olham incrédulas pelas escolhas que fiz. Simplesmente não souberam lidar com a situação, quando “podiam”me chamar pra fazer alguma coisa, aonde “poderiam” me levar pra sair...

Mesmo elas têm preconceito de algum jeito, em algum lugar. Isso inclui eu, você e todo mundo.

Saimos do pedestal então, queridxs preconceituosxs?

Então, vamos entender algumas coisas: Antes de apontar na cara de qualquer pessoa e dizer “você é um xxxxxx” ou “que atitude mais yyyyyyyy”, faça uma auto-avaliação. Qual foi a última vez que você fez um check-up e pegou alguns vícios pra analisar? Qual foi a última vez que você julgou alguém pelas escolhas que essa pessoa fez? Não to dizendo pra você, de repente, querer ser legal com todo mundo. Nem to dizendo que não existe atitude errada ou condenável (até porque não somos donas da verdade, apenas da leiteira que tá levantando fervura, certo?). MUITO MENOS digo que eu mesma não tenha preconceito com algumas coisinhas por aí. Mas nós deveriamos primeiro tentar mudar nossas atitudes antes de querer mudá-las no mundo.

Você não é melhor do que ninguém. Então abrace essa humildade e veja o mundo por outras lentes, fora as suas.

Vai mais uma xícara?

PS: Especial pra você que perguntou “o que ela faço da vida”, ou “como ela posso ser feliz” sem comer carne, beber, fumar, drogar ou fazer muito sexo..

Bem, eu te pergunto: Sua felicidade depende mesmo dessas 5 coisas? Sendo três delas modos de alterar sua consciência e uma baseada em violência (estou falando de comer carne, gente!!)? Eu consigo ser feliz, rir, dançar, viajar, abrir a mente e aproveitar muitos momentos de muitas maneiras diferentes, independente de que(m) eu consuma. Então não se preocupe comigo. Se preocupe com você. Você é realmente feliz?

(fim da alfinetada.)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Negro só faz negrice (e gordo só faz gordice)

Negro só faz... Ops. Não pode dizer isso. Justo nós que somos da democracia racial. Não pode mais xingar preto. Não pode mais xingar viado. Não pode dar um corretivo na mulher (afinal, quem nunca?). Não pode mais nada. Então como exemplificar a cagada humana? Quem vai personificar a burrice humana? Vos apresento, com prazer, o gordo.
O gordo começa que é gordo. O resto é só consequência: é burro, é desajeitado, é feio. Quem nunca ofendeu uma mulher de gorda que atire a primeira pedra. Porque não dá pra competir. Homem pode ter todos os defeitos (inclusive ser fofinho!) mas mulher não. Mulher é linda. Mulher é magra. Nem vou me repetir sobre machismo, a Lola fez o bem de escrever sobre isso aqui, aqui e aqui. Mulher que come demais é gordinha tensa - e só fica assim se tomou um fora ou se tá sofrendo de amor. Fora isso, nenhum motivo pra se empanturrar, meninas!
Gordo tem que ter loja específica, que chama Loja de Tamanhos Especiais. Especiais, cara pálida. Porque você é especial. Não é normal (e qualquer mulher que já tenha entrado numa loja dessas, sabe que gordas, por excelência, SÓ gostam de calças justas com apliques, bordados e strass, blusas semitransparentes, de uma manga só, ou escrito SEXY). Gordo tem que ser chamado de gordinho, fofinho, rechonchudo. Porque gordo, por si só, é xingamento (sem esquecer que há um tempão, numa terra bem distante, não existia negro. Era pardo, queimadinho, corado, moreninho e várias outras delicadezas pra poupar essas pessoas já desgraçadas por serem, assim, diferentes).
Falar de gordo é chover no molhado, mas vamos pensar sobre. Primeira coisa do preconceito: não admitir. Todo mundo tem um amigo gordo (e um viado, e um muçulmano e um índio), o que não significa que não se ache feio/ nojento/afins. Por quantos gordos você já sentiu atração sexual? Não faz o seu tipo, ok, eu sei. Mas você só sente atração por quem faz seu tipo, ou já gostou de um feinho bacana? E de um gordo bacana? Sabia que gordo (e até mesmo uma gorda ou outra) transa?
A questão é que mais uma parcela da população tem problemas por não ser 'normal'. Sem contar nos pseudonutricionistas que querem salvar a população. Dá pra ser gordo e ser saudável, porque gordura (nem sempre) é problema de saúde. É problema estético.
Pensando puramente na lógica do consumo, o combate à gordura é lindo. Já se percebeu que brigar contra a cor de pele só faz aberração, é caro, enfim, não vale a pena. Cabelo banalizou, qualquer pobre pode fazer chapinha em casa. O que melhor que a gordura? Vende pra todo mundo: rico, pobre, classe média, velho, jovem. Vende revista de dieta, vende academia, vende cirurgia. E o bom é que circula o mercado financeiro: vende quando entope todo mundo de comidas desnecessárias (amo MUITO tudo isso), depois vende pra tirar a gordura. Vende a propaganda que te incita o consumo (gostoso é viver!), depois vende academia. Vende até iogurte pra fazer funcionar intestino preguiçoso. Intestino preguiçoso, sério? Qualquer um que coma o mínimo de verduras e legumes, faça um trisco de exercício e não se entupa de carne (go, veggies) tem um intestino produtivo! Porque . Vende-se tudo. Tem salada no mcdonalds (?), tem sopa enlatada, tem de tudo.
Defendo gordos porque sou gorda. Sorte a minha que eu me resolvi com isso, porque aos 16, eu tinha bulimia (e a cada ano que passa, descubro que as meninas que estudavam comigo também tinham). Eu vivia pra contar calorias. Perdi 12kg e um ano da minha vida, que não tenho uma boa lembrança. Nada valeu a pena. Há dois anos, uma menina que cresceu na mesma rua que eu morreu de leucemia. Depois de ter anorexia por um tempo e família achando lindo a patinha virar um mulherão. Que triste.
Não sou a favor de uma gordocracia. Aliás, sou contra qualquer uniformidade imposta. Mas custa nada respeitar, custa? É, de novo, a mesma classe. Quando você ferra com um gordo, tá ferrando com uma mulher, com um gay, com um negro, com um cego... Todo mundo que não é normal. Bora sair da bolha da normalidade?


Gordo é o novo preto.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Eu Não Nasci Pra Trabalhar (ou Eu Não Sei Fazer Currículo)

Não era o que minha mãe queria ouvir de mim. Ainda bem, pelo menos que ela não lê esse blog. Vamos considerar as experiências profissionais mais comuns (pelo menos entre os meus amigos de baixa estirpe, assim como eu). Você pode ser:
1. estagiário: nessa meritocracia fajuta em que vivemos, estagiário é o mais baixo na escala dos bons trabalhos. Sim, bons trabalhos, porque ninguém é estagiário de atendente do McDonalds. Aí o sujeito acha que está aplicando sua faculdade na sua vida profissional, que é uma chance de aprender mais e... PÉEN. Não é. É só um jeito de te pagarem bem pouco, amparados pela lei, e te ensinarem o mínimo e passarem todos os trabalhos de merda (tipo encher a impressora de todas as salas todos os dias e fazer mil cafés toda tarde, porque isso forma o caráter e ensina a humildade). Porque você não é formado. Porque você não tem uma carreira sólida. Porque tudo que você sabe fazer não presta pra nada. Se prestasse, você não seria estagiário.
2. proleotário: não, eu não errei a grafia. Ele é um otário mesmo. Ele se vende barato, porque de onde saiu tem muito mais - e que cobra até bem menos. Ele trabalha quantas horas a empresa quiser, e agrada o chefe, agrada o cliente, agrada o marketing, agrada todo mundo, menos a si mesmo. Mas se convence de que está curtindo, porque paga as contas, viaja nas férias e ajuda uma instituição de caridade que fica lá-não-sei-aonde e ajuda as crianças com-não-sei-o-que-lá. E o melhor, acha que prostituição é um trabalho degradante e o que faz é bem diferente disso. Não tem diferença nenhuma entre o cara o telemarketing que é esculachado por ser burro e seu chefe te chamando de incompetente. É a mesma classe dos motorizados que reclamam que estão presos no trânsito e dos motoristas de ônibus em greve. Todo mundo fodido. Todo mundo olhando pro próprio umbigo. Todo mundo com o botão de foda-se pra esses proleotários.
3. dono: tirando os chefes (que são proleotários mas acham que mandam muito no rollet), os donos são quem mandam de verdade. Não sei muito sobre essa categoria, a não ser que ganhar dinheiro é o que conta e o resto que se foda. Os donos não podem viver com menos de 20 mil por mês, pras contas do dia-a-dia. Mas mandam embora a empregada que cobra 80 reais a diária. Porque ela não tem noção. Porque assim não tem condição. Porque, afinal, ela é só uma diarista.
4. peixe-grande: estilo Steve Jobs. Seu lindo.
5. freela, autônomos, bico: a categoria que mais se fode - porém, mais se diverte. Trabalha quando dá vontade (e tem onde tirar grana). Inventa, vende jornal molhado, faz o que for. Dentro da lógica do consumo, dentro da lógica do trabalho, sem estabilidade, sem FGTS, sem férias remuneradas. Sem chefe, sem cartão de ponto, sem cobranças idiotas, sem compromissos nas tardes de sexta e nas manhãs de segunda. Toda sorte de vagabundos, maconheiros, desocupados, baladeiros, irresponsáveis e escória (que paga as próprias contas sem mesada) está aqui.

***

Eu não nasci pra trabalhar. Não mesmo. Eu odeio ter que arranjar o que fazer porque é horário de expediente. Não tem nada pra fazer? Ótimo, deixe seus funcionários darem um rolê pela cidade, pegarem um museu mais vazio, passarem a tarde com os filhos, cuidar da horta no quintal de casa. Mas não. Funcionário bom é funcionário no cabresto. A vida tem que girar ao redor do trabalho.
Porque trabalho é consumo.
Consumo é felicidade.
Trabalho traz dinheiro.
Dinheiro compra felicidade.
Na verdade, todo mundo já sabe que dinheiro não compra felicidade. Mas compra desodorante, margarina e carro, coisas que mulheres adoram. E compram creme, plástica e danone light, porque as mulheres adoram ser bonitas.

N Ã O .

Essa não é a lógica certa. Isso não está certo, nem pra mim, nem pra ninguém. Mas é foda, as pessoas não tem chance de pensar sobre isso. E tem as que pensam e preferem ignorar ou achar que tudo foi assim sempre, que coisa. Mas eu continuo tendo certeza que eu não nasci pra trabalhar. Eu gosto de fazer coisas.
Eu gosto de organizar, de cozinhar, de lavar louça e lavar quintal. Eu gosto de plantar na terra (tudo que eu planto em vaso, morre), gosto de catalogar livros e pesquisar imagens. Eu gosto de relacionar coisas, juntar literatura com música, gosto de escrever e de fazer cartões postais com recortes de revista. Eu gosto de cuidar de crianças e de velhinhos, eu gosto de fazer tricô, eu gosto de bater pregos e quero aprender a usar uma furadeira. Gosto de tirar foto com caixinha de fósforo e queria saber revelar filmes. Eu gosto de falar, de inventar e de contar histórias, eu gosto de costurar bonecos com meias velhas e gosto de pintar portões (talvez eu goste de pintar paredes, mas eu nunca tentei). Eu gosto de ler e produzir coisas novas sobre o que eu leio. Eu gosto de ler o que os outros produziram. Eu gosto de pesquisar, de inventar e de copiar. Eu gosto de desenhar, pintar, recortar, colar e mandar pelo correio. Eu gosto de coisas velhas. Eu demoro pra entender coisas novas. Eu gosto de lavar roupas e gosto de brechós. Eu gosto de encerar sapatos e ouvir as pessoas quando elas só precisam falar-falar-falar. Eu gosto de conhecer gente. Eu gosto de ficar sozinha. Eu gosto de usar saia e fazer tatuagens. Eu gosto de pintar as unhas (dos outros e as minhas). Eu gosto de desenhar roupas, pensar estampas e inventar botões. Eu gosto de fazer feira e passear na 25 de março. Eu quero aprender design.
Será que isso não é o bastante? Será que eu preciso mesmo escolher uma coisa e esquecer todas as outras? Será que não dá pra curtir a vida e ir ganhando dinheiro pra pagar as contas? Será que não dá pra revolucionar esse rollet e tentar um novo mundo possível?

Desempregada sim. Avec orgulho. E contra a alienação, por mais que seja difícil de (des)engolir.



Na defesa da tese da minha Dinda, ela agradeceu ao pai dela, falecido. Ele dizia que um homem que se dá ao respeito, jamais trabalha com carteira assinada. Dik.